(imagino o meu cérebro a gozar o prato e a rir à gargalhada, sempre que me prega esta partida)
As palavras fervilham na minha mente. Os pensamentos correm, passando de uns para outros, quase sem que me consiga aperceber. Por vezes, tento voltar ao início e recordar o pensamento que deu origem a outros tantos (algumas com sucesso), mas eles multiplicam-se e eu perco-me...
Tenho de os escrever, para não me voltar a perder. lembro-me do caderno... que tirei da mala há uns dias, com o intuito de comprar um novo... que ainda não aconteceu... Ora Bolas! (comprar caderno! - pronto, agora que já o escrevi, já não me esqueço)
Procuro na mala o telemóvel. Ligo o gravador de voz e as palavras não saem, agrupadas em frases, como eu esperava. ao invés, voam, tal como gaivotas na praia, num final de tarde de verão, primeiro apenas algumas e depois outras, seguidas de outras e de outras, até voarem todas da minha mente. e eu, em vez de contemplar as que iam ficando, preferi despedir-me, em silêncio, das que se iam embora.
Sem outros pensamentos, limito-me ao que estava a fazer.
Sei que, por ser distraída, deixo sempre tudo em todo o lado e nunca encontro o que quero e que dou pontapés em muitas coisas que se vão colocando à frente dos meus pés.
Também sei que, por ser distraída, é-me totalmente possível querer ir para um qualquer lugar e ir parar a outro completamente diferente.
E ainda sei que, por ser distraída, só não me esqueço da cabeça, por aí, porque está agarrada ao corpo.
Mas acho que a minha distracção tem limites, e que esses limites me impedem que coisas, completamente surreais, me aconteçam... Ou melhor, achava. Depois de me ter acontecido o que vou contar, temo que, afinal, a minha distracção seja ilimitada.
Ontem deixei um Desafio, hoje conto a história que o originou.
Há umas semanas, num dia de chuva, consegui dar cabo de um par de botas.
No dia seguinte fui comprar outras. Entrei na sapataria mais fashion da aldeia e comecei a ver as botas. Percebi que a oferta era mais do que muita - resumia-se a três pares - e comecei a ficar desesperada com o tempo que iria demorar a escolher... dezassete segundos depois estava a experimentar a bota do pé direito. menos de dois minutos bastaram para concretizar a compra e sair da loja.
Assim que cheguei ao carro calcei-as e continuei o meu dia.
Muitas horas depois - mais de duas - estava eu, encostada ao balcão da cozinha, quando olhei para os pés.
Havia alguma coisa que me estava a chamar a atenção, mas eu não conseguia perceber exactamente o quê....
Achando que era da dobra das botas, uma estava mais dobrada do que a outra, tentei dobrar a direita, para ficar do mesmo tamanho que a esquerda, mas a dobra ficava maior. Depois tentei desdobrar a esquerda, mas não dava, a dobra estava cosida.
"Mau, mau, mau Maria! Então o que é que se está a passar?"
Comecei a olhar mais atentamente para as botas e vi que a esquerda tinha uma linha de "lã", quase no peito do pé, enquanto a direita tinha apenas a costura...
"Oh Meu Deus!!!! As botas são diferentes!!!!"
Soltei uma mega gargalhada, que se deve ter ouvido no espaço.
"Como é que é possível eu ter comprado um par de botas, diferentes, sem que me tenha apercebido?"
Voltei à loja para tentar encontrar o par de uma das botas e resolver o meu problema. Dirigi-me para a secção das botas e, qual não é o meu espanto, quando descubro que já não estavam lá os pares!
Não bastava eu ter-me enganado, como estendi o meu engano a outra freguesa, que, tal como eu, tem, agora, um par de botas desiguais.
P.S. - No final disto tudo o sr.Sapateiro devolveu-me o dinheiro das botas e deixou-me ficar com elas.
Pode um cêntimo fazer diferença? Bem... depende da situação.
Imaginemos, então, as seguintes duas situações:
SITUAÇÃO A:
Vamos a uma daquelas grandes cadeias de lojas, quase sempre multinacionais, fazemos as compras calmamente e, quando vamos pagar, ouvimos do outro lado "posso ficar a dever-lhe cêntimo?". Por norma todos respondemos que sim, afinal um cêntimo não vale nada.
Também eu aceitava, sem hesitação, que me ficassem a dever um cêntimo... até que:
SITUAÇÃO B:
Vamos a uma daquelas grandes cadeias de lojas, quase sempre multinacionais, fazemos as compras calmamente e, quando vamos pagar, percebemos que nos falta um cêntimo. Como é lógico, perguntei à pessoa da caixa "posso ficar a dever-lhe cêntimo?", e qual não foi o meu espanto quando me responderam que não e fui obrigada a deixar um produto para trás.
Não gostei! Fiquei furibunda! Só me apeteceu pedir o livro de reclamações, mas não o fiz. Comecei a magicar o meu próximo passo. Não perdiam pela demora!
Foi então que aconteceu o impensável (não para mim, que tinha tudo bem pensado), que deu origem a uma terceira situação:
SITUAÇÃO C:
Vamos a uma daquelas grandes cadeias de lojas, quase sempre multinacionais, fazemos as compras calmamente e, quando vamos pagar, ouvimos do outro lado "posso ficar a dever-lhe cêntimo?" - E foi aqui que a coisa aconteceu!!! - Muito calmamente, respondi "Não!" - e a expressão da pessoa foi indescritível e inesquecível!, mas continuei - "Na semana passada estive aqui e ficaram a dever-me um cêntimo. Ainda agora vi que ficou a dever um cêntimo à pessoa anterior, por isso, não pode!" - e aqui a pessoa mudou, literalmente, de côr - "Consegue perceber o exorbitante lucro desta cadeia, apenas por ficarem a dever um cêntimo aos seus clientes?" - neste momento a pessoa da caixa começou a olhar para todos os lados e os poucos clientes que se encontravam na loja começavam a perceber o que se passava - decidi que iria dar a conversa por terminada, dizendo "a partir do momento em que me negaram igualdade, ao não me deixarem ficar a dever um cêntimo, a minha atitude passa, então, a ser igual à vossa" e pedi que me escrevesse no verso do talão que me ficava a dever um cêntimo, para que fosse descontado na próxima conta.
E não é que a pessoa da caixa se recusou a fazê-lo?!
Apesar de me ter saltado a tampa e estar em ebulição por dentro, mantive a calma aparente e pedi para chamar o responsável da loja. A pessoa recusou. Já a bater o pé e de braços cruzados, pedi o livro de reclamações. Nova recusa. Comecei a gesticular e a dizer que iria chamar a polícia porque assim já estávamos a falar de um roubo - opá, tinha dito a palavra mágica "Polícia"! a sua atitude mudou completamente - levantou-se da cadeira (acho que, no meio de tanta conversa, se terá sentido sem forças e sentou-se) e foi chamar o responsável.
Respirei fundo, para me acalmar, e quando o responsável me perguntou o que se estava a passar contei tudo, muito calmamente - bem, escusado será dizer que, neste momento todos os clientes da loja estavam ao meu lado e a apoiar-me - inclusive a parte de chamar a polícia. O responsável, muito prontamente (e acrescento, acertadamente) escolheu a opção de escrever no verso do talão que me ficava a dever um cêntimo.
Desde este dia, nunca mais aceitei que me ficassem a dever um cêntimo. É escandaloso o que certas empresas chegam a ganhar com esta atitude.*
*penso que não existem estudos sobre os lucros ganhos com a história de ficarem a dever um cêntimo aos seus clientes, mas deduzo que seja mesmo muito.
As férias de Natal estão mesmo à porta e eu deixo-vos, aqui, uma pequena tarefa:
Definam, numa palavra, a autora deste blog
Como tenho algum receio que a imensidão de postsescritos neste blog (onde me descrevo - tanto física como psicologicamente) não bastem para que possam chegar a uma conclusão, achei que escrever mais umas linhas só vos iria ajudar, por isso pensei em contar-vos a minha "aventura" mais recente.
Como já sabem - se não o sabem, deviam saber!!!! - eu estou a participar, pela primeira vez, no Pai Natal Secreto. As coisas estão encaminhadíssimas, só falta mesmo enviar os presentes (terei de ir a Sintra, porque os correios mais próximos encerraram hoje Ora Bolas e Carambolas!!! Tenho cá uma sorte!!! )...
Mas se as coisas estão encaminhadas, qual é exactamente o teu problema, Mom Sandra?!
(perguntam vocês, muito admirados)
Pois... é aqui que reside o busílis!
Então não é que eu estou há semanas a pensar que o meu alvo é uma determinada pessoa - li e reli o seu blog, mais de uma vez, à procura de ideias - e hoje, quando estou a ler o mail para retirar os dados dessa pessoa, percebo que afinal... havia outra!!!!
O meu alvo não é quem eu pensava, mas sim outra pessoa...
Estive a pensar muito, e estou em vias de criar uma petição que leve à criação de uma lei, que defina a obrigatoriedade da apresentação de pré-avisos, sempre que alguma coisa esteja para acontecer.
Excluindo situações urgentes, o pré-aviso já é obrigatório quando sabemos que vamos faltar a uma consulta (avisar com 24h de antecedência ou pagar a consulta), ou a uma audiência no tribunal (corremos o risco de pena de prisão se não o fizermos), ou no trabalho (onde é que já se viu faltar sem avisar?), na escola (alunos e professores fazem-no), até as greves têm de ter um pré-aviso...
Ora, se a noção de pré-aviso está tão bem incutida no nosso dia-a-dia, porque é que ainda acontecem coisas que nos apanham de surpresa?*
A semana passada, por exemplo. Todos os dias a família foi brindada com algo inesperado. Ainda não estávamos refeitos do choque do dia anterior e já outro estava a crescer.
SEGUNDA-FEIRA
A chegada do frio.
Chegou uma manhã, sem avisar. Não me recordo se nos esquecemos de trancar a porta e ele entrou durante a noite, ou se, num qualquer outro dia caótico, nos enganámos e lhe demos uma chave cá de casa; mas a verdade é que acordámos na segunda-feira com o ar gelado. As janelas estavam todas embaciadas e a neblina não nos deixava ver o exterior. Nessa noite, os cobertores voltaram às camas, o aquecedor foi acordado do seu sono de Verão e a manta aconchegou-me, no sofá.
TERÇA-FEIRA
Pedro Dias entregou-se.
OK, esta não me chocou... Segui o mínimo desta novela. Sei que matou duas pessoas, esteve fugido cerca de um mês e depois que se entregou... (talvez o choque venha com a sentença)
QUARTA-FEIRA
Saber que o Trump ganhou.
Foi um choque mundial.
QUINTA-FEIRA
Ficámos sem carro.
Em plena IC19, quando o maridão vinha de Lisboa. Chegaram umas horas mais tarde, no reboque.
SEXTA-FEIRA
Um dos nossos queridos limoeiros não aguentou com o peso dos limões e partiu-se. Como já tinha acontecido o mesmo, no ano passado, decidimos cortá-lo um pouco abaixo da parte afectada.
*Sabes porquê, Mom Sandra? Porque as borboletas devem andar a esvoaçar, que nem umas malucas, algures lá para as florestas indonésias!