(diz-se que, por norma, quando não há nada para se falar, fala-se do tempo... aqui não é o caso, até porque tenho muito mais nada acerca do que falar, mas a verdade é que como nunca senti tanto calor por estas bandas, achei que devia falar sobre esta alteração climática. É um evento tão único que comparo o com o XXI Governo de Portugal!)
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Às doze horas, do dia quatro de Agorto de dois mil e dezoito, na minha aldeia, estão 40ª!...
Aqui, na fresca Sintra, estão 40º!... Aqui, onde o maldito micro-clima não deixa que o calor se aproxime, estão 40º... Aqui, entre a serra e o mar, onde nem sempre o sol aparece, estão 40º!
O ar está seco, neste pedaço de terra onde o ar nunca seca, porque a humidade faz parte do ADN do nosso micro-clima, quase não se consegue respirar. Penso nos idosos e nas crianças, penso que não devem sair de casa. Penso, aliás, que ninguém deve sair de casa.
Não me queixo do calor, pois sei que é passageiro, mas não consigo desfrutar dele. A água que sai da mangueira ferve - sem qualquer eufemismo - o que impossibilita um banho refrescante... talvez a do chuveiro esteja melhor (parece-me quase impossível, tendo em conta que vivo numa vivenda e os canos são os mesmos - passam pelo chão e uma parede, que está virada precisamente para o sol!).
Um abraço solidário, e sentido, para todos os que também se sentem a derreter!
Hoje sonhei contigo e com vinhos... mas não era com um vinho qualquer, descansa!
Aqui a Mom sabe bem o que quer e, até calha, que tem muito bom gosto, por isso hoje sonhei que estávamos, na pacatez do meu jardim, a tomarmos um copo (bem, na verdade foi mais do que um copo, mas isso não interessa nada!) de um belo e delicioso Vinho de Colares, enquanto conversávamos e riamos e exorcizávamos os nossos fantasmas.
... e, assim, de um magnifico sonho, nasceu a ideia para um post!
O VINHO DE COLARES
Na região de Colares, entre a Serra de Sintra e o Oceano Atlântico, numa zona maioritariamente junto ao mar e que inclui as freguesias de Colares, São Martinho e São João das Lampas, existe uma pequena zona vitícola, a segunda mais antiga região demarcada do país - Denominação de Origem Controlada de Colares - que produz um dos melhores vinhos nacionais.
O Vinho de Colares é conhecido pela sua cor rubi que, com o envelhecimento, ganha uma textura aveludada e bouquet excepcionais, características únicas que ajudaram à sua internacionalização para os Estados Unidos da América, onde é apreciado por um pequeno, mas importante, nicho de mercado.
A zona DOC de Colares, existe desde 1255, e as características únicas deste vinho devem-se à conjugação de três factores:
às vinhas centenárias;
às características do solo - divide-se em duas sub-zonas: "chão de areia" (região das dunas) origem de cerca de 80% da vinha plantada de acordo com a prática tradicional de "unhar" a vara de "pé franco" no estrato subjacente à camada de areia, fazendo com que as videiras cresçam ao nível do chão; e "chão rijo" (solos calcários, pardos de margas ou afins);
ao clima - temperado e húmido no Verão, influenciado pela Serra de Sintra, aliado aos ventos marítimos fortes.
Este vinho tornou-se bastante popular, um pouco por todo o mundo, nos finais do século XIX, porque as castas que o produzem foram das poucas castas na Europa que sobreviveram à filoxera, tudo graças aos solos arenosos são plantadas.
As vinhas de Colares crescem sempre junto à areia, onde são plantadas, para que a uva se desenvolva perto do solo, originando uma maior exposição solar do que a que acontece com as vinhas tradicionais, factor que origina uma maior produção e uma melhor qualidade das uvas e, sensivelmente a seis semanas das vindimas, são colocadas umas estacas, para que a humidade do solo não estrague as uvas.
Existem, ainda neste século XXI, quatro adegas produtoras de Vinho de Colares e estão todas sediadas na freguesia de Colares, são elas:
Adega Regional de Colares
Fundada em 1931, a Adega Regional de Colares é, neste momento, a adega cooperativa mais antiga do país. Actualmente, mais de 50% da produção da região e mais de 90% dos produtores pertencem a esta cooperativa. O edifício actual é o original, é imponente quando visto de fora e deslumbrante pela sua dimensão interior. No edifício principal reunimos um grande conjunto de tonéis de enormes dimensões nos quais envelhecemos os vinhos que produzimos.
"Como Adega Cooperativa local, damos grande importância à protecção e preservação da Cultura do Vinho de Colares, às suas castas únicas e aos seus métodos de cultivo originais.
A nossa filosofia enológica assenta no imperativo respeito pelo terroir de Colares, dando continuidade ao trabalho dos nossos antepassados.
Produzimos vinhos temperamentais do Velho Mundo Vitícola! Redescubra-nos!"
Esta adega foi mandada construir em 1808, em Almoçageme, pela família Gomes da Silva. Esta família era oriunda da região de Loures, onde possuíam uma grande vinha e, mais tarde, dedicaram-se também ao comércio de vinhos da Região de Colares.
Os vinhos Viuva Gomes, têm como representante oficial nos Estados Unidos da América, a NLC Wines e podem ser encontrados em várias garrafeiras de Nova Iorque e no restaurante Jean Georges com três Estrelas Michelin.
Adega Beira-Mar
Esta companhia foi fundada em 1900 por António Bernardino da Silva Chitas, após a sua morte, quem esteve à frente do negócio foi o seu filho e, hoje em dia, é propriedade do neto do fundador.
Situada na pequena aldeia das Azenhas do Mar, as marcas comercializadas são “Colares Chitas” e "Beira Mar", compostas por um vinho tinto Ramisco e um vinho branco das castas Malvasia, Arinto, D. Branca e Fernão Pires, todas estas castas são cultivadas em chão de areia.
Um grande produtor de vinho da região DOC de Colares, que já não está no activo é a adega Visconde de Salreu. Falo dela, porque o seu edifício é, de facto, fantástico e motivo de visita de muitos estrangeiros.
Adega Visconde de Salreu
Em 1921, em Colares, o Visconde de Salreu, mandou construir umas grandes caves, a partir de um projecto do arquitecto Norte Júnior.
Foi construído um edifício majestoso, com uma fachada de enorme beleza e que, ainda hoje, se encontra num excelente estado de conservação.
“O edifício de nítida inspiração vernacular alonga-se em dois blocos paralelos e contíguos que galgam a encosta, permanecendo a fachada junto à entrada principal, ornada por duas pipas envoltas numa cercadura azulejar da Fábrica Constança, a azul e branco, na qual se pantenteiam putti colhendo uvas.”
@ "Colares", de Maria Teresa Caetano
Hoje em dia, este edifício é utilizado, meramente utilizado para eventos culturais.