Nem queria acreditar quando, à meia noite, vejo a notícia acerca da explosão de uma bomba num concerto da Ariana Grande, em Manchester.
As lágrimas encheram-me os olhos, quando ouvi o testemunho de alguém que se encontrava presente, no concerto.
Como é que pode ser possível uma coisa destas?!
Estamos a falar de música para adolescentes!
Estamos a falar de um concerto cheio de pais e mães e filhos e adolescentes e crianças!
Estamos a falar de momentos que deveriam ser inesquecíveis, pela magia de se estar perante um ídolo e de o ouvir cantar ao vivo e a cores (muitos pela primeira vez), e não pela monstruosidade que ocorreu!
19 mortos e 50 feridos (balanço à 01h20), a maioria jovens...
Ainda não tinham passado dez dias do ano 2011 quando uma pequena, mas possante, frase mudou a minha vida.
- "Eu e tu não somos filhas do mesmo pai..." - disse, já a chorar, a minha Sis.
Era Domingo e eu tinha 34 anos.
Lembro-me que, naquele momento, estas palavras não fizeram qualquer sentido na minha mente. Lembro-me que, peguei no Cartão do Cidadão e li o nome do meu pai. Lembro-me das lágrimas a escorrerem na cara do meu pai e de eu lhe dizer, enquanto as limpava "Como é que alguém pode dizer uma coisa destas? Então não és o meu pai? Claro que és! Está aqui escrito, no Cartão do Cidadão, que o és!" Lembro-me que, naquele dia, só pensava na barbaridade que me estavam a dizer.
Os primeiros três dias (li algures que é o tempo que o cérebro precisa para assimilar novas informações) foram de dúvidas. Não existenciais (essas vieram mais tarde), mas da informação. Foram três dias a pensar que me estavam a enganar. Ao quarto dia, acordei e a informação já estava registada - o meu pai não era o meu pai biológico.
Os últimos seis anos foram de choque, revolta e dúvidas existenciais. Foram anos com muitos momentos negros e tristes. Foram anos onde, por duas vezes bati no fundo dos fundos.
Mas também foram anos que me ensinaram muita coisa e que me transformaram na pessoa que sou hoje.
Consegui arrumar a cabeça. Consegui expulsar demónios. Consegui perceber que tudo nos acontece com um propósito. Tomei decisões que devia ter tomado há muito tempo. E aprendi que, até pode demorar, mas depois da tempestade vem sempre a bonança.
Este ano, decidi que estava na altura de voltar a viver. Comecei o ano decidida a mudar e tomei as rédeas da vida.
Voltei a trabalhar.
Liguei a uma amiga muito especial, com quem já não falava há muitos e muitos meses.
Cortei, totalmente, com quem não presta.
Passeio a pé.
Riu muito mais.
Fiz novos amigos.
Transformei conhecidos em amigos.
Voltei ao blog.
Tudo isto, e muito mais, trouxeram-me mais alegria, mais calma e, com certeza, mais sabedoria.
Sei que, por ser distraída, deixo sempre tudo em todo o lado e nunca encontro o que quero e que dou pontapés em muitas coisas que se vão colocando à frente dos meus pés.
Também sei que, por ser distraída, é-me totalmente possível querer ir para um qualquer lugar e ir parar a outro completamente diferente.
E ainda sei que, por ser distraída, só não me esqueço da cabeça, por aí, porque está agarrada ao corpo.
Mas acho que a minha distracção tem limites, e que esses limites me impedem que coisas, completamente surreais, me aconteçam... Ou melhor, achava. Depois de me ter acontecido o que vou contar, temo que, afinal, a minha distracção seja ilimitada.
Ontem deixei um Desafio, hoje conto a história que o originou.
Há umas semanas, num dia de chuva, consegui dar cabo de um par de botas.
No dia seguinte fui comprar outras. Entrei na sapataria mais fashion da aldeia e comecei a ver as botas. Percebi que a oferta era mais do que muita - resumia-se a três pares - e comecei a ficar desesperada com o tempo que iria demorar a escolher... dezassete segundos depois estava a experimentar a bota do pé direito. menos de dois minutos bastaram para concretizar a compra e sair da loja.
Assim que cheguei ao carro calcei-as e continuei o meu dia.
Muitas horas depois - mais de duas - estava eu, encostada ao balcão da cozinha, quando olhei para os pés.
Havia alguma coisa que me estava a chamar a atenção, mas eu não conseguia perceber exactamente o quê....
Achando que era da dobra das botas, uma estava mais dobrada do que a outra, tentei dobrar a direita, para ficar do mesmo tamanho que a esquerda, mas a dobra ficava maior. Depois tentei desdobrar a esquerda, mas não dava, a dobra estava cosida.
"Mau, mau, mau Maria! Então o que é que se está a passar?"
Comecei a olhar mais atentamente para as botas e vi que a esquerda tinha uma linha de "lã", quase no peito do pé, enquanto a direita tinha apenas a costura...
"Oh Meu Deus!!!! As botas são diferentes!!!!"
Soltei uma mega gargalhada, que se deve ter ouvido no espaço.
"Como é que é possível eu ter comprado um par de botas, diferentes, sem que me tenha apercebido?"
Voltei à loja para tentar encontrar o par de uma das botas e resolver o meu problema. Dirigi-me para a secção das botas e, qual não é o meu espanto, quando descubro que já não estavam lá os pares!
Não bastava eu ter-me enganado, como estendi o meu engano a outra freguesa, que, tal como eu, tem, agora, um par de botas desiguais.
P.S. - No final disto tudo o sr.Sapateiro devolveu-me o dinheiro das botas e deixou-me ficar com elas.
Cresci numa casa onde a palavra Fé nunca foi dita.
Aos onze anos comecei a frequentar a catequese, contra a vontade da mãe e, contra a sua vontade baptizei-me, fiz a primeira comunhão, a profissão de fé e, por fim, o crisma. Aprendi a Fé cristã e limitei-me a perceber a Fé como sendo algo religioso.
Percebi ontem, depois de ler o post do José, que a Fé não é só acreditar num "... Deus qualquer. Ou até num político ou num simples vencedor de um Festival", percebi que a Fé é Acreditar!
Deixo-vos as palavras do José, que resumem o seu pensamento e a sua ideia acerca do que é a sua Fé e que me fizeram todo o sentido.
Acreditar é semear um bago de trigo e colher uma seara dele. Acreditar é perceber que os outros serão sempre mais importantes que nós mesmos. Acreditar é saber que amanhã haverá outro dia, esteja eu vivo ou morto, não importa. Acreditar é poder chorar sem ter medo nem vergonha.
P.S.- José, já devíamos ter tido esta conversa há mais tempo!