(diz-se que, por norma, quando não há nada para se falar, fala-se do tempo... aqui não é o caso, até porque tenho muito mais nada acerca do que falar, mas a verdade é que como nunca senti tanto calor por estas bandas, achei que devia falar sobre esta alteração climática. É um evento tão único que comparo o com o XXI Governo de Portugal!)
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Às doze horas, do dia quatro de Agorto de dois mil e dezoito, na minha aldeia, estão 40ª!...
Aqui, na fresca Sintra, estão 40º!... Aqui, onde o maldito micro-clima não deixa que o calor se aproxime, estão 40º... Aqui, entre a serra e o mar, onde nem sempre o sol aparece, estão 40º!
O ar está seco, neste pedaço de terra onde o ar nunca seca, porque a humidade faz parte do ADN do nosso micro-clima, quase não se consegue respirar. Penso nos idosos e nas crianças, penso que não devem sair de casa. Penso, aliás, que ninguém deve sair de casa.
Não me queixo do calor, pois sei que é passageiro, mas não consigo desfrutar dele. A água que sai da mangueira ferve - sem qualquer eufemismo - o que impossibilita um banho refrescante... talvez a do chuveiro esteja melhor (parece-me quase impossível, tendo em conta que vivo numa vivenda e os canos são os mesmos - passam pelo chão e uma parede, que está virada precisamente para o sol!).
Um abraço solidário, e sentido, para todos os que também se sentem a derreter!
confesso que não me lembrava do dia exacto, e acho que tal coisa não seria possível, tendo em conta a minha terna idade, mas recordo-me como se fosse hoje...
Combinámos as coisas no próprio dia, aquando das chegadas da praia.
O espaço era encantador e com a melhor vista para o céu - o pátio dos vizinhos - mas obrigava a uma logística um pouco complicada, por ser apertado e ter um canteiro enorme mesmo no centro.
Tínhamos uma rede brasileira, onde coubemos as três mais pequenas (eu, a minha sis e a Mónica - a sobrinha das vizinhas), duas espreguiçadeiras (para os mais velhos - o pai da Mónica e do Pedro e a sua tia Ivone) e uma cadeira de praia (calhou ao Pedro - irmão da Mónica, por ser a mais desconfortável e por ele ser um jovem rapaz).
Estabelecidos os lugares, só nos restava esperar que a noite chegasse, para os ocuparmos.
Deviam ser uma onze da noite quando, munidas de mantas, entrámos o portão dos vizinhos e nos reunimos todos. Eu sentia um nervoso miudinho... nunca tinha assistido, ao vivo, a um eclipse da lua. e ali estava eu, aos doze anos, com uma manta debaixo de um braço e uma chávena de cacau quente na outra mão, preparada para aguentar o tempo que me fosse possível aguentar, só para perceber o que acontecia à lua... bem, isso e sentir-me crescida, é que naquele tempo, só os adultos ficavam acordados pela noite fora
A primeira hora de espera não custou muito a passar, havia entusiasmo, estávamos todos animados com o evento e a conversa corria entre todos.
O problema foram as quase duas horas seguintes...a lua tardava a desaparecer e eu estava a começar a ficar cansada. Até que, por volta da uma e meia da manhã, alguém deu "o tiro de partida". O tão ansiado eclipse estava a começar e foi assim:
17 de Agosto de 1989 - Eclipse Total da Lua
Demorou horas, e eu sei que adormeci lá pelo meio (mas só depois de ver a lua desaparecer), mas acordei a tempo de a ver reaparecer.
Naquela noite assisti a um verdadeiro espectáculo de magia, oferecido pela Mãe Natureza.
Recordo-o até hoje... Mais logo à noite, um pouco mais do que agora, certamente!
(fui buscar o video aqui. visitem a página que vale mesmo a pena! )
Já estamos, oficialmente, de férias. As três. Aquela que acabou as aulas mais cedo - a Inês, acabou a 15 - foi a que entrou mais tarde de férias, devido aos exames (Português a 22 e Matemática a 27). Eu e a Maria entrámos no mesmo dia, 22.
O ano lectivo passou e foi cansativo. Ambas transitaram - nem outra coisa seria de esperar! - e agora tenho a mais nova finalista do 1º ciclo (no meu tempo chamávamos-lhe primária...) e a mais velha caloira no secundário.
Oh meu Deus!, estou a ficar velha!!!
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Queremos ir para a praia! estamos, aliás, a planear todos os dias a ida para o dia seguinte. mas o clima não está a nosso favor e o tempo tem estado nublado... é certo que não está propriamente frio, mas também não está agradável para se estar na praia.
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Dia de afazeres, o de hoje. A Maria foi passar o dia a casa da Zé, encontro de amigos. Aposto que se vai divertir à brava... e que vai chegar de rastos, a casa. Daqui a pouco a Inês vai ter com os amigos à praia e eu tenho de ir a Sintra, tratar de burocracias... BLHAC!!!
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Amanhã é o nosso feriado. O S. Pedro. O último das festas juninas.
Antes festejávamos os três santos. Fazíamos fogueiras no Santo António e queimávamos as alcachofras. Fazíamos fogueiras no S. João e divertíamo-nos a saltá-las. Fazíamos fogueiras no S. Pedro e assávamos sardinhas e carapaus e febras e frangos.
Hoje não já há fogueiras. Nem alcachofras. Mas ainda há manjericos (por aqui, as vendas atingem o seu auge nas festas de S. Pedro). E é feriado!
Sabem aquela ansiedade boa que sentimos quando antecipamos um reencontro com alguém de quem temos muitas saudades?... Pois bem, eu senti-a durante toda a semana.
Foi no domingo que planeámos ir vê-lo. Nada foi combinado com ele, mas sim com a sua irmã. Ligámos para o seu telemóvel, para sabermos como estava. Tínhamos acabado de ouvir que já não estava entre nós e não queríamos acreditar. Ligámos e atendeu a irmã. A sua voz estava trémula e pausada. Ao ouvi-la, o meu coração encolheu e pensei o pior... Oh meu Deus!... Mas antes que pudéssemos perguntar por ele, ela acalmou-nos dizendo:
O Lelo não pode falar agora porque está a ser observado. Engasgou-se enquanto comia...
Ok, não nos acalmou totalmente, percebemos que as coisas estavam um pouco piores do que há uns dias... Pior ficámos quando nos pediu, novamente com a voz trémula:
Por favor, venham assim que conseguirem...
Iríamos no sábado seguinte (ontem, portanto) e levaríamos uma queijadas de Sintra, para atenuar as saudades.
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Sabem aquela ansiedade boa que sentimos quando antecipamos um reencontro com alguém de quem temos muitas saudades?... Pois bem, eu senti-a durante toda a semana.
Ontem, poucas horas antes de irmos vê-lo, soubemos que já não era possível... O Lelo já não acordou.
E agora, a difícil tarefa de lidar com a sua morte. A emoção é atenuada pela razão, "... é melhor assim, ao menos já não sofre..." penso enquanto sofro e as lágrimas me caem pelo rosto.
...
de manhã, fui à casa mortuária.
E agora, a difícil tarefa de lidar com a sua morte... Antes de entrar, não queria entrar. Antes de entrar fui ter com a sobrinha. há anos que não a via. abraçámo-nos a chorar. um abraço apertado e sentido. um abraço durador e profundo. - E agora, a difícil tarefa de lidar com a morte do único tio. daquele tio especial.
E agora, a difícil tarefa de lidar com a sua morte... Antes de entrar fui ter com uma irmã. poucas vezes nos vimos, mas eu sabia quem ela era e ela sabia que eu era. abraçámo-nos a chorar. um abraço apertado e sentido. um abraço durador e profundo. ela dizia-me que não podia ser e eu respondia-lhe que tudo ia ficar bem. e chorámos, abraçadas. - E agora, a difícil tarefa de lidar com a morte do único irmão. daquele irmão especial.
E agora, a difícil tarefa de lidar com a sua morte... Não era possível adiar mais a entrada. mas eu não queria entrar. eu não queria ter a certeza. eu não queria ver. eu não queria saber... "tens de entrar!", disse-me a minha consciência. e eu entrei. e ali estava ele. chorei assim que o vi. ali estava ele, deitado no seu caixão, fechado até ao pescoço e de rosto tapado por uma suave toalhinha de linho branco. e os meus olhos deixaram de ver, com tantas lágrimas que continham.
E agora, a difícil tarefa de lidar com a sua morte... À entrada, no cimo das escadas está uma mesa. em cima dessa mesa está o livro de condolências. não escrevi. nunca escrevo. nunca sei o que escrever e acho pateta apenas assinar. em cima dessa mesa estão os cartões que se costumam dar aos presentes. uma espécie de lembrança para eternizar o falecido. não tirei. costumo tirar. mas hoje não consigo.
E agora, a difícil tarefa de lidar com a sua morte...Ao fundo das escadas vejo a sua mãe. está abraçada ao maridão. chora e diz que eram muito amigos. o maridão consola-a. desço as escadas devagar e dirijo-me a ela. e choro. e ela chora. aquele abraço que não queria que acontecesse estava a acontecer. o abraço mais difícil de se dar. um abraço sem palavras. um abraço entre uma mãe que sente a dor de outra. já mais calma, segura-me as mãos. olhamo-nos nos olhos e ela pergunta-me "como é que vai ser, agora? como é que vai ser, agora? o meu menino já cá não está!". não tenho respostas para lhe dar. acaricio-lhe a face e choramos. sentamo-nos de mãos dadas. agora em silêncio. - E agora, a difícil tarefa de lidar com a morte do único filho. daquele filho especial.
E agora, a difícil tarefa de lidar com a sua morte. O último adeus está marcado para as 14h30.
A guerra começou em 2011. Em sete anos originou mais de meio milhão de vitimas mortais. Mais de dez milhões de pessoas - metade da população síria e aproximadamente a população portuguesa - fugiram para outros países - nomeadamente países europeus - à procura de uma vida melhor. Um país totalmente destruído.
Muitos não sabem porque acontece e outros só têm a ganhar, enquanto a mesma decorre. Neste momento, e ao fim de tantos anos, acho que, na verdade, já não interessa quem é o "bom" ou quem é o "mau", porque já são todos maus. Ambos os lados se justificam com a reposição de uma democracia, mas a verdade é que são os civis que estão a sofrer e a morrer... Principalmente as crianças.
Todos os dias temos notícias daquela catástrofe e todos os dias as notícias são piores do que no dia anterior. Ataques mais horrendos do que os anteriores, com mais vitimas e, aquilo que considero o mais macabro desta guerra: cada vez mais vitimas infantis.
Desde domingo, segundo a ONU, acontece o pior massacre desde o início da guerra, em Ghouta Oriental, nos arredores de Damasco. Morreram cerca de 400 pessoas, das quais 150 crianças que iam a caminho da escola, ou estavam internadas no hospital.
O Jornal de Notícias publicou, 20 imagens impressionantes deste massacre. São 20 fotografias que testemunham as vitimas, os mortos e a destruição que resultaram da violência deste ataque.
O que mais me impressionou nestas imagens, foi o facto de, em metade delas estarem retratadas crianças feridas e, notoriamente, em estado de choque e, dessas, nove representam crianças que com menos de sete anos, ou seja, nasceram já em plena guerra e não conhecem outra realidade que não esta - a guerra!
Ao ver as imagens, só pensava:
Como será o futuro de uma pessoa que não conhece a paz?, que cresce a ver e a ouvir bombas a caírem, e prédios ruídos, e destruição por todo o lado?, que houve o choro sofrido dos adultos, devido aos familiares que morrem, vitimas das bombas?
Concluo que não tenho respostas a estas perguntas. Concluo que me é, totalmente impossível, imaginar viver neste horror e isso faz-me sentir segura. Muito segura.
P.S. - o Conselho de Segurança da ONU está a negociar um cessar fogo de 30 dias!!!, há mais de duas semanas!!!