Porque a vida (também) é isto
Ainda não tinham passado dez dias do ano 2011 quando uma pequena, mas possante, frase mudou a minha vida.
- "Eu e tu não somos filhas do mesmo pai..." - disse, já a chorar, a minha Sis.
Era Domingo e eu tinha 34 anos.
Lembro-me que, naquele momento, estas palavras não fizeram qualquer sentido na minha mente. Lembro-me que, peguei no Cartão do Cidadão e li o nome do meu pai. Lembro-me das lágrimas a escorrerem na cara do meu pai e de eu lhe dizer, enquanto as limpava "Como é que alguém pode dizer uma coisa destas? Então não és o meu pai? Claro que és! Está aqui escrito, no Cartão do Cidadão, que o és!" Lembro-me que, naquele dia, só pensava na barbaridade que me estavam a dizer.
Os primeiros três dias (li algures que é o tempo que o cérebro precisa para assimilar novas informações) foram de dúvidas. Não existenciais (essas vieram mais tarde), mas da informação. Foram três dias a pensar que me estavam a enganar. Ao quarto dia, acordei e a informação já estava registada - o meu pai não era o meu pai biológico.
Os últimos seis anos foram de choque, revolta e dúvidas existenciais. Foram anos com muitos momentos negros e tristes. Foram anos onde, por duas vezes bati no fundo dos fundos.
Mas também foram anos que me ensinaram muita coisa e que me transformaram na pessoa que sou hoje.
Consegui arrumar a cabeça. Consegui expulsar demónios. Consegui perceber que tudo nos acontece com um propósito. Tomei decisões que devia ter tomado há muito tempo. E aprendi que, até pode demorar, mas depois da tempestade vem sempre a bonança.
Este ano, decidi que estava na altura de voltar a viver. Comecei o ano decidida a mudar e tomei as rédeas da vida.
Voltei a trabalhar.
Liguei a uma amiga muito especial, com quem já não falava há muitos e muitos meses.
Cortei, totalmente, com quem não presta.
Passeio a pé.
Riu muito mais.
Fiz novos amigos.
Transformei conhecidos em amigos.
Voltei ao blog.
Tudo isto, e muito mais, trouxeram-me mais alegria, mais calma e, com certeza, mais sabedoria.